Foi apenas por um segundo. Sob os primeiros raios da manhã, em meio à revolução que acabara de dormir, eu te vi passar. Havia sangue seco nos imundos paralelepípedos e pilhas de entulhos nas portas das casas. As bodegas, horas antes ocupadas por velhos amarelados, bêbados e desiludidos, estavam com suas portas de aço fechadas, em sua maioria pichadas e rabiscadas com frases que clamavam alterações sociais. Eram ondas de protestos feitos por aqueles que muitos insistem em denominar baderneiros e vagabundos, mas que almejam mínimas doses de justiça e direitos para os seus iguais. Paredes gastas, sem reboco e tinta, escondiam seus riscos disformes, pois toda sorte de palavrões e ditos populares as enfeitavam. Ofegava-se estragos e pó abafadiço das calçadas, barafundas ininteligíveis e escandalizadas desabavam o restante da inocência nossa. Mas naquele segundo, que anulou o contraste com a imensurável e duvidosa eternidade, você serenou o cenário e fez-se luz a partir do teu sorriso, estrela mundana que és. Todavia, aparentou-me que teus contornos não eram tangíveis: despontavas feito quimera, alegoria hesitante para os meus desvarios, conforto para os desasseios e pavores.
Antes mesmo de supor os resquícios do teu raso caminhar, ansiava por lhe oferecer as declarações de amor que nunca soube cunhar por completo. Neste meio tempo, experimentei abolir o que de extenso e indecifrável fazia morada em meus gestos e sinais. As estações desfilaram diante desse quadro, assenhoraram-se das brechas de concórdias passageiras e de tudo aquilo que acostumei a chamar de meu. E ressurgiram corriqueiras, insensíveis perante os desatinos. Notei que ausentava-se em meio à neblina desalumiada, fazendo despreocupada o teu trajeto regressado.
Ao te ver passar, sumiram-se as ansiedades e os martírios: tua presença é como uma trégua diante da devastação, uma flor que emana sopros de amores benditos.
Antes mesmo de supor os resquícios do teu raso caminhar, ansiava por lhe oferecer as declarações de amor que nunca soube cunhar por completo. Neste meio tempo, experimentei abolir o que de extenso e indecifrável fazia morada em meus gestos e sinais. As estações desfilaram diante desse quadro, assenhoraram-se das brechas de concórdias passageiras e de tudo aquilo que acostumei a chamar de meu. E ressurgiram corriqueiras, insensíveis perante os desatinos. Notei que ausentava-se em meio à neblina desalumiada, fazendo despreocupada o teu trajeto regressado.
Ao te ver passar, sumiram-se as ansiedades e os martírios: tua presença é como uma trégua diante da devastação, uma flor que emana sopros de amores benditos.
Sob os primeiros raios da manhã, em meio à revolução que acabara de dormir, eu te vi passar. Era equinócio, doces e abatidas lembranças embaçavam as obrigações do fronte e transgredir pareceu-me estúpido. Porque quando você surges em meio ao caos, tudo o mais desinteressa e a rebeldia serena. Alguns dirão que é um equívoco, ilusão egoísta. Não importa. Eu te vi passar e isto é razão suficiente para sucumbir à vida, afundar frustrações e esquecer esses tétricos dias que não são nossos.
Recordei-me da brevidade dos instantes que nos escapam cotidianamente. Já nos é comum passar os dias sem percebê-los, sem fazê-los de fato nossos. E os lugares que passamos, os cheiros que sentimos, o calor do sol e sensações várias? Estamos sempre atentos para percebermos a sutilidade das coisas que nos cercam? Outro dia vi uma libélula em meio ao corredor de concreto. Não era o cinza que se fazia perceber de tão grande, mas a pequenina voadora que tentava encontrar ar livre e puro com todas as suas cores. Compartilho com vc meu sentimento de estar perdida e não sei ao certo se quero fazer o caminho de volta. mas não se preocupe, é ainda "os primeiros raios da manhã"!
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