domingo, 9 de outubro de 2011

Contornos

Dolorido, apertado e esquecido. Meu peito abriga um coração que suplica por instantes de paz, por fagulhas de sentido, por brechas de entendimento.
Confusão, descontrole e amargura. Minhas lembranças clamam para serem apagadas, lamentam o negrume sólido que concreta as emoções passadas. Fazem uma espécie de oração calada, uma prece angustiada, para que suma da memória as ilusões que transformei em verdades, já que os bons momentos jamais foram divididos: foram eles meus e de mais ninguém. 
Levei a eternidade para perceber que o amor, essa pequena palavra que sopramos ao alento toda vez que a pulsação acelera mais do que deveria, tem caminhos tortuosos, regras complexas, palavras dúbias, necessidades que não sei compreender. Egoísta que sou, vi os outonos sucumbirem às tentações de devastadoras paixões e dei adeus para esperanças que enchiam-se de promessas vazias. Mas segui sempre pelos varados trilhos que construí por esses curiosos percursos.
Vejo-me sozinho, no meio do furacão e dentro de tempestades que criei, feito uma criança que tenta saber por que desaba o mundo a sua volta. Mas em minhas terminações suprimidas, nos interstícios sonolentos onde prevejo um pedaço de devaneio sem alma, haverá sempre a insônia e olhos fatigados por tentarem enxergar o incompreensível. Nas bordas de cada rio, nos contornos de todos os lugares idealizados, nas margens dos nossos desapegos ou nos bares dos nossos afogamentos, haverá sempre uma fatia de mim. E de você.

“Sou muito sozinho. Tenho todos comigo, e ao mesmo tempo, ninguém.
Adaptado de Camila Depane

“Ah, quem me salvará de existir?”
Bernardo Soares, em “Livro do Desassossego” 

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