Jamais houve inspiração,
explicação.
Subtraio-me sem compreender-me.
E é na solitude que quase vivo,
para olvidar o seu sorriso,
desembaraçar a vastidão.
Na resplandecência,
efêmera em sua essência,
duro apenas por frações
e fatias de sabedoria,
minúsculas razões
que não apartam nostalgias.
Vou para varanda de meus abandonos
gritar a minha alma:
ninguém ouve o desvario de acamados desconsolos,
o fim de uma abstinência calada.
Sangro toda imundice amontoada das ruas,
dói-me as feições amargas e mudas.
E isso me bate sem perdão, sacode
feito pingos d’água na madrugada quando chove.
O resto, migalhas do espelho que se esfacela, são (re)versos do iniludível.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
"É preciso estar sempre embriagado. Isso é tudo: é a única questão. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que lhe quebra os ombros e o curva para o chão, é preciso embriagar-se sem perdão.
Mas de que? De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser. Mas embriague-se.
E se às vezes, nos degraus de um palácio, na grama verde de um fosso, na solidão triste do seu quarto, você acorda, a embriaguez já diminuída ou desaparecida, pergunte ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunte que horas são e o vento, a onda, a estrela, o pássaro, o relógio lhe responderão: "É hora de embriagar-se! Para não ser o escravo mártir do Tempo, embriague-se; embriague-se sem parar! De vinho, de poesia ou de virtude, como quiser."
Charles Baudelaire
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Vida inversa e amores
A vida está inversa e os amores se cansaram. As mesmas carências e vontades, os mesmos temores. Estou partido ao meio, avulso ao vento. E meu coração é um trapo antigo, como aqueles que se deixam no rodapé da porta para que não entre água e poeira por baixo. O corpo padece, suporta sozinho uma carga descomunal. Minhas impressões, restos de mim, deixam marcas incuráveis em meu rosto e cicatrizes pontiagudas em minha alma: já não posso mais deslembrá-las, afogá-las no vácuo impreciso da esperança. A vida está inversa e os amores, indiferentes. Não há diálogo, nem gestos e o silêncio adoece. Emudeço dentro de mim mesmo, como um disco riscado a rodar infinitamente numa vitrola sem agulha. O conflito dormente que saí das entranhas, desgosto acumulado do que não soube ser, névoa translúcida de emoções imperfeitas, abrolha e sucumbe, desassossega até a última gota. Alheio, aglomerando quimeras e vendo tudo passar do lado de fora, estou eu sentado à janela de enganos desrazoáveis. E já não há mais amores, nem vida e nem réplicas.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Sobre o quase
Ansiedades veladas
Confusões caladas
Amarguras insensatas.
E eu respiro por osmose,
Multiplicando as somas de vácuos, espaços, buracos,
Como se a sombra do último minuto, acolhida por respingos de arrependimentos,
Projetasse sobre o nada tudo aquilo o que quase posso oferecer.
Confusões caladas
Amarguras insensatas.
E eu respiro por osmose,
Multiplicando as somas de vácuos, espaços, buracos,
Como se a sombra do último minuto, acolhida por respingos de arrependimentos,
Projetasse sobre o nada tudo aquilo o que quase posso oferecer.
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