terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Tarde

Foi numa tarde de sol estridente que me assaltou à idéia de que paira sobre a atmosfera que respiro, um dissabor amargo de alguma coisa que ninguém sabe o que é. Um peso invisível abatia meu peito e um desgosto vacilante, que surge nas horas inacabadas dos dias incompletos, ameaçava incessantemente tomar contada da minha mente, dilacerar minhas vísceras, escurecer minhas vistas. Perambulava sem rumo, apenas para balançar essas apreensões covardes de dentro de mim e fazer o medo espalhar-se pelo meu corpo, chegar aos meus braços, as minhas pernas, sair da minha alma, porque o meu coração já estava esfarrapado, inchado de solidão, e precisava transportar suas lamúrias para outro lugar. Expressões sem nexo vagavam dentro de minhas meias idéias e divagava comigo mesmo, como um moribundo louco que precisa de cuidados urgentes.
Parei por um segundo, para saber se ainda pulsava algo em mim. O vento soprava quente lá fora. O ar irrespirável e as árvores estavam lá, assim como as pessoas e seu cotidiano enfadonho e repetitivo, como os automóveis e o asfalto quente, como a impaciência e o cansaço. O sol fazia questão de rasgar os sentidos, como que para deixar claro que o excesso de luz cega rapidamente. E era um dia normal, o Universo seguia indiferente e distante, Deus continuava sem mostrar sua face, o absurdo espreitava a existência.
Naquela tarde, algo em mim lançou sobre o futuro a certeza de que não seria feliz. Que importa?! Que é felicidade, afinal? Estou ao redor de uma mesa de bar com poucos amigos e uma dose de álcool, com meus rabiscos e uma xícara de café ou com meus amores inconstantes, que terei a minha! Mas também, que significa isso? A minha prosa é torta e não sabe fazer curvas longas, e se escrevo assim é porque vivo de ilusões desmedidas.
O tempo passou errado e o sorriso que não dei perdeu-se no infinito.
Como ser quem sou se não sei onde vou nessa comum tarde, onde tudo segue igual ao nada?

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