quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ter de existir

E no labirinto sem fim que é a existência, ouço, do alto de minha amargura, o silêncio mortal que cessa até o vento turbulento. Tudo está mais soturno do que a solidão fria e melancólica da madrugada de um deserto; nesses instantes sempre me indago, sem nunca encontrar resposta, onde está Deus, tão indiferente ao desalento esquecido dos homens.
As dormências que cercam a nossa maneira de perceber o mundo estavam já colocadas desse modo quando entendemos que o caminho estava errado e torto; antes mesmo de refletirmos com o sentimento, e não com a razão, e olharmos para dentro de si, à procura de qualquer fio de luz que nos desse um último gole para amenizar o esmorecimento dos nossos dias. Mas agora é tarde e sombrio e a vida persiste, equivocada e tranquila, como se fosse natural e sensato tropeçarmos do lado de fora de nossas incertezas, que se postam diligentemente diante de nossos passos.
À tudo isso repondemos de uma forma singular: emudecemos todos, na espera absurda de pensar sem sofrer, anestesiados por doses cavalares de uma impotência condescendente. É nossa busca quieta e constante de tentar trazer paz às emoções dos corações dilacerados, a nossa forma tola e insensata de fazer do todo uma incoerência infimamente organizada.

Mas, afinal, que significado isso tudo possui, que orientação segue, o que representa, o que quer dizer, se é que diz alguma coisa? Não sei, nunca saberei. Sou o inverso do que quero, o contrário do que sinto, a contradição em sua essência. Não há verdade em minhas palavras, porque o que digo é apenas a silhueta do que penso, a metade de todas as dores oscilantes que vivem dentro de mim. Nunca conseguirei ser eu mesmo, sem que seja só para mim mesmo. Às outras pessoas, deixo sempre a idéia de que sou algo que inacabado, incompleto ou mutilado, mesmo quando deixo a melhor das impressões.
Postar-me diante da janela do meu quarto é também estar diante da porta da minha alma. Quando olho para fora daquela, observando a paisagem e o cenário que se formam perdidos no azimute longíquo, não percebo um movimento que indique sentido ou harmonia; com a minha alma sucede o mesmo. Onde estão as respostas das perguntas que me comprimem? Lá fora, onde tudo é caos e ausência? Aqui dentro, onde tudo é vácuo e tédio? Me consumo e perco com essas aflições e prevejo, sofro com antecedência, como um peso a esmagar-me, a estreiteza em ter de existir.

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